segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Tributos demais, verdades de menos

Estive no Rio de Janeiro no dia 24 (do Rock n’ Rio), e reparei que lá, os cariocas estão sofrendo do mesmo mal que nós aqui no interior, os tributos. Tem para todos os gostos: tributo a Pearl Jam, Nirvana, Legião Urbana, Pink Floyd, led Zeppelin, enfim... Muitas das bandas homenageadas já encerraram suas trajetórias, fazendo todo sentido, a necessidade de contar mais uma vez aquela historia, talvez para que os mais jovens a conheça. Porém, criou-se um filão; Uma corrida do ouro entre as bandas, “tá faltando tributo a quem mesmo”? “Ah é”? “vamo fazer então!”.
Os rockeiros carecem de boas oportunidades para tocar, as bandas não possuem muito espaço, e o publico é conhecido como quebrado (sem grana) e bagunceiro; rock de verdade tem que ser ouvido em volume alto e de preferência em pé. Portanto, toda e qualquer oportunidade cedida às bandas, é agarrada com unhas, dentes, palhetas e baquetas. E o que começamos a ver, é uma serie de apresentações geniais e algumas desastrosas.
O maior pecado está na ausência do quesito primordial ao rock: a atitude. Cássio Peixoto, jornalista, dono do blog Mucufo.blogspot.com (sobre quadrinhos), costuma usar a expressão “punk de boutique” para definir aqueles que sabem fazer tipo, se vestem de preto, usam corrente, mas todo mundo percebe que lhes falta alguma coisa, é a tal da atitude.
Quando falamos em tributos, a atitude esta diretamente relacionada à identificação de quem esta fazendo a homenagem e o homenageado. Com isso, no próximo tributo a que você for preste atenção em cada componente da banda e você vai perceber exatamente quem está ali por amor, realizando um sonho de poder tocar aquele repertório que ele muitas vezes já ouviu sozinho no quarto, ou quem está apenas “matando o cachê”.
Sim, eu sei, “se paga bem, que mal tem”? Não há problema algum em aceitar um projeto, um desafio de tocar um repertório com precisão, passar pelo crivo dos fãs. Na verdade, o único motivo deste post, é expressar a tristeza que é ver o rock sendo transformado em máquina caça-níquel. 

3 comentários:

  1. Muito bom esse texto! Ficou rápido e rasteiro! Muito fácil de ler e entender! E eu concordo em gênero, número e grau! Fazer tributo para o Capital Inicial cantando "Independência" é fácil, quero ver alguém fazer um tributo para o Queen!

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  2. Acabo de ler esse belo texto escrito pelo Stefano Marques e lembrei: "Opa, estou nesse meio." Mas, posso justificar. Quando lancei minha banda Rock.exe no início desse ano, quis manter minha linha musical e resolvi retornar ao grunge, tanto dos anos 90, quanto alguns que ainda pode ser escutados do século 21. Quando decidi fazer um show com músicas só do Foo Fighters, não veio a inteção de colocar o nome "Tributo", até porque, tributo significa homenagem, não estará errado. Com o show marcado no Sesc, podemos dizer que fiz uma noite cantando músicas do Foo Fighters, que foi carinhosamente chamado de tributo ao Foo Fighters algumas semanas depois em um festival de rock. Veio o convite maior, aí sim, um tributo ao Nirvana em uma casa de shows de rock em Campos. Esse sim, pode-se dizer que foi tributo mesmo. Bem, posso ter colocado a justificativa para minha banda, que tomará mais cuidado ao falar tributo, e sim, pode se chamar "Rock.exe toca Foo Fighters, Pearl Jam, ...".

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  3. Esse é um assunto muito delicado onde obviamente vão haver discordâncias e concordâncias. Vou colocar meu ponto de vista em relação a isso. Penso que todo e qualquer tipo de música, ou projeto é bem-vindo. O tributo além de vir como uma homenagem ao ídolo ou a banda, têm vários propósitos que vão além do que se espera, mas na verdade só existem 2 motivos pra você vir com um projeto desse.

    1- Ou você ama a banda e quer homenagea-la
    2- Ou a grana é boa pro projeto.. têm investidor

    Não existe qualquer outro motivo para isso e é assim que é. Ou faz pela grana ou pelo coração. A carência de mostrar seu trabalho, principalmente aqui em Campos é um dos fatores chaves para acontecer esse tipo de coisa. Afinal, quero tocar em algum lugar mas não tenho música própria (porque a bosta da cidade não abre espaço para isso), então, vamos tocar um Legião Urbana e ta tudo certo. Todo mundo gosta e iremos ser aplaudidos quando tocarmos Pais e Filhos. Qual é o músico, que nunca fez isso? até eu que não sou músico ja pensei em fazer isso pô. Cada caso é um caso, e se você, músico, nunca pensou no seu bolso tocando qualquer coisa, acho que você não é músico, afinal o músico também precisa de grana e como que ele vai ter a grana tocando "O Vento"??? Ahhh cara você iria precisar de uma "Ana Júlia" pra ganhar uma grana porai ;).

    Gosto dos tributos por relembrar minha fase de "punk de boutique". Eram legais e eu andava mesmo de corrente e todo preto, e me achava com muita atitude. Mas também gosto dos tributos porque cada artista em que você pensa em fazer um tributo (por mais que seja pela grana ou pelo amor) é porque esse artista merece mesmo um tribudo! nenhum tributo é inválido ou desmerecido. Por mais que a qualidade as vezes não é boa, mas aposto que se for da sua banda preferida, você ainda vai cantar junto, e depois vai falar mal dos caras. Acho difícil daqui a uns 30 anos a gente ver tributos ao Restart por exemplo. Não que eles não mereçam, mas porque não vamos apelar também né.

    Os nossos rockeiros, aaahhh os nossos rockeiros. Muitas das vezes olho isso e penso: eu era assim? Não, eu não podia ser assim. Algumas vezes tão primitivos, tão sem criatividade. E eu não to falando em relação a saber da vida do seu ídolo, porque é o que mais sabem, mas é em relação a atitude mesmo. Não precisa balançar a cabeça pra cima e para baixo (o que é muito legal) e usar preto para se mostrar um rockeiro de atitude ou conteudo. Você pode mostrar que é, simplesmente usando uma blusa social branca, calça jeans, sapato, e fazendo uma dançinha desajeitada em pleno Rock in Rio. ;)

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